Por Éder Wen
As condições de saúde dos trabalhadores de enfermagem no Distrito Federal foram debatidas hoje (15) em audiência pública realizada pela Câmara Legislativa. A iniciativa partiu do deputado Bispo Renato Andrade (PR), que ressaltou a importância da mediação do Poder Legislativo na melhoria das condições de trabalho dos servidores. “Em janeiro esta Casa aprovou um crédito de R$ 20 milhões para a Saúde, o que garantiu várias nomeações anunciadas ontem pelo governador, além da realização em breve de novo concurso e da finalização do plano de carreira da enfermagem”, enfatizou.
Apesar dessas conquistas, a situação dos profissionais de enfermagem continua grave, segundo o depoimento de profissionais e representantes da categoria. O vice-presidente do Sindicato dos Auxiliares e Técnicos em Enfermagem do DF, Jorge Viana, trouxe resultados de uma pesquisa recente que mapeou o estado de saúde dos profissionais que atuam no DF. Os números revelam que 51% dos trabalhadores têm alguma doença, sendo que 24% deles foram diagnosticados com alguma doença psiquiátrica. “Dos doentes, 73% se tratam na rede privada. Esse dado é importante para desmistificar a ideia segundo a qual os servidores da Saúde têm prioridade no atendimento da rede pública”, pontuou Viana.
Viana argumentou que “se o governo fosse inteligente, deveria tratar rapidamente os servidores doentes para que eles voltem logo ao trabalho”. O sindicalista também comentou o alto índice de ocorrências de assédio moral no trabalho. “De todos os trabalhadores da enfermagem, 26% já sofreram assédio. É importante ressaltar que o assédio moral leva ao suicídio”, lembrou Viana. Os dados revelam ainda que 55% dos servidores que sofreram assédio moral não procuraram ajuda. Outro dado impressionante da pesquisa mostra que 58% dos profissionais conhecem algum servidor que cometeu suicídio.
Falando em nome dos profissionais que atendem nas residências dos pacientes, o chamado home care, Maria Bonfim de Araújo reclamou que a recém aprovada Lei do Descanso só vale para os trabalhadores de hospitais e clínicas. “Nós trabalhamos nas casas dos pacientes e não temos alimentação nem local adequado para descanso. Muitas vezes as famílias exigem que os profissionais façam serviços domésticos, o que é um absurdo”, desabafou.
Representando o governo, o gerente de Segurança, Higiene e Medicina do Trabalho da Secretaria de Saúde, Ricardo Teotônio Nunes, ponderou as críticas apresentadas. “Nós conhecemos os riscos físicos e psicológicos que os profissionais enfrentam e temos 18 núcleos de segurança e medicina do trabalho compostos por médicos e enfermeiros do trabalho, psicólogos e fisioterapeutas. É verdade que muitas nomeações para esses núcleos só saíram neste ano, mas estamos procurando atender a demanda dos servidores da Saúde”, afirmou.
Sobre os casos de assédio moral, Teotônio Nunes lembrou que “os abusos são cometidos por chefes que, em sua maioria, são servidores de carreira que ao assumirem um cargo de chefia acabam reproduzindo esses erros”. O gerente também ressaltou que “é preciso trabalhar em parceria com os servidores e seus representantes para alcançar mudanças significativas”.
Fonte: CLDF