Por LILIAN TAHAN, PRISCILLA BORGES e MÁRCIA DELGADO
aro secretário de saúde do Distrito Federal, Humberto Fonseca, com que razão o senhor vem a público festejar o desfecho do resultado de um sequestro que ocorreu nas barbas da instituição que o senhor administra? A comemoração pelo bem-estar da criança é legítima, claro, mas soa muito mal o senhor questionar o trabalho e a motivação da imprensa de cobrir e divulgar o episódio, em qualquer das fases de cobertura.
Pense, secretário, que não haveria criança para ser resgatada se o bebê não houvesse sido sequestrado de dentro de um hospital da rede pública de saúde do DF. Um caso rumoroso que merece por parte das autoridades e da imprensa toda a atenção.
Reflita, dr. Humberto Fonseca, que, se os hospitais administrados pelo senhor estivessem enquadrados à Lei 4.635/2011, não haveria sequer desfecho dessa história, porque simplesmente ela não existiria. A legislação distrital determina que todas as Unidades de Terapia Intensiva (UTI) neonatal, berçários e maternidades da rede pública devem ser monitorados por equipamentos de áudio e vídeo.
E, entre os 22 hospitais e UPAs da capital federal, apenas três têm câmeras de segurança funcionando. Por ausência de um sistema capaz de transmitir as imagens, há 805 aparelhos mofando em um galpão do almoxarifado da Secretaria, quando deveriam ter flagrado a ação de uma sequestradora, que ficou quatro horas perambulando pelo hospital à escolha de um bebê para levar.
A existência por si só das câmeras de segurança poderia inibir a ação de um sequestro como o que ocorreu no Hran. Enquanto o senhor usa o microfone das redes sociais para distribuir responsabilidades que competem à sua alçada, negligencia o cerne da questão: a falta de segurança nas unidades públicas de saúde.
E, olha, secretário, que estamos aqui atentos apenas à questão da segurança nos hospitais, uma gota no oceano de carências e problemas que a rede pública do DF enfrenta.
Concentre-se, então, senhor secretário, em administrar melhor os insumos que devem abastecer os hospitais, em providenciar o conserto de equipamentos quebrados, em contratar mais médicos. Empenhe-se em criar protocolos mais eficientes e mais humanos, que diminuam as infinitas filas por uma consulta, um exame ou um tratamento. Foque suas energias em evitar que a população da capital da República brasileira morra à espera de atendimento.
E deixe que a imprensa faça o seu trabalho, e a polícia o dela. Cada um no seu papel e teremos uma sociedade melhor, mais segura e vigiada.
E, não se engane, dr. Humberto Fonseca, o brilhante trabalho da polícia não diminui o tamanho da brecha que as portas dos hospitais coordenados pelo senhor abriram para esse crime. Tivesse a gestão do senhor sido mais “brilhante”, estaria a polícia usando todo o seu “brilhantismo” para esclarecer outros milhares de incidentes na capital dos problemas.
Fonte: Metrópoles