Além do risco de contaminação servidores lotados no local alegam poder sofrer redução no pagamento da insalubridade

Algo cheira mau no Hospital Regional da Asa Norte (Hran) e não são os banheiros ou a falta de roupas limpas na lavanderia. O cheiro é de morte, ou melhor, dos mortos que amontoam o necrotério, onde até dois corpos dividem uma gaveta. A situação foi denunciada por servidores que gravaram um vídeo publicado na noite de ontem (13/09) pelo portal de notícias Metrópoles.

Em nota publicada pelo jornal no mesmo dia da publicação da matéria, o GDF informou que: “A direção do Hospital Regional da Asa Norte informa que a geladeira não está com a temperatura fora do normal. O que houve durante o fim de semana foi o acúmulo de corpos, mas a situação já foi resolvida e o armazenamento dos corpos está normalizado”.

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Cadáver em estado avançado de decomposição. Foto enviada por servidores

Apesar da nota do GDF publicada no jornal, servidores que preferiram não se identificar, enviaram na manhã de hoje (14/09) ao Sindate-DF, fotos do local e da geladeira ainda lotada, com dois cadáveres por gaveta, o que afeta a refrigeração adequada dos corpos. Em algumas fotos é possível notar o avançado estado de putrefação de um dos cadáveres.

Foi relatado que a principal causa para o forte mau cheiro, sentido até pelos pacientes internados, foi a morte de um presidiário na quinta-feira (08/09). Como não havia espaço na geladeira, o corpo ficou exposto em uma maca por dois dias, colocando em risco, a saúde de pacientes e servidores do local.

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Por falta de espaço na geladeira do necrotério, cadáveres ficam expostos em macas, sem refrigeração /Foto enviada por servidores do Hran

Risco de contaminação
Segundo o Odonto-legista Marcus Vinícius Ribeiro de Carvalho, em entrevista ao jornal da Unicamp, constatou que as doenças mais resistentes como o HIV, a tuberculose, Hepatite B e C, continuam infecciosas mesmo em um cadáver. A apostila “Agentes Infectantes em Cadáveres Humanos Fixados: Uma Breve Revisão e Guia de Procedimentos” apresenta diversos estudos realizados pelos pesquisadores, DENIZ DEMIRYÜREK, ALP BAYRAMOGLU e SEMSETTIN USTAÇELEBI. Eles apontam que um agente infeccioso chamado de Príon (partículas proteicas infecciosas) resistentes à métodos tradicionais de esterilização, podem causar, doenças degenerativas do sistema nervoso central, mantendo sua infectividade por até 3 anos.

Burocracia até no além
Mesmo depois de morto um “paciente” ainda sofre com a burocracia do Governo. Para a liberação dos corpos, é necessário que um juiz decrete o destino dos mesmos, em caso de indigentes. No caso de presidiários, a 5ª DP é a responsável, o IML que seria um dos órgãos essenciais para a resolver o problema do acúmulo de cadáveres no necrotério, está em greve.

Por Ana Comarú