Se a doença for transmitida para o bebê, a criança pode nascer com cegueira, encefalite, retardo mental, paralisia dos membros, entre outras sequelas
Por Deborah Sogayar
Estagiária sob supervisão de Mariana Niederauer
Maria Gomes do Rêgo Sousa, 30 anos, está grávida de 6 meses do quarto filho e enfrenta problemas com o sistema público de saúde. Durante os exames pré-natais, foi diagnosticada com toxoplasmose, uma doença infecciosa que, se contraída por bebês, ataca todas as partes do organismo humano, incluindo cérebro, músculos, inclusive o coração. No entanto, há mais de um mês a gestante não toma os remédios de que precisa, pois estão em falta nos postos de saúde.
A diarista conta que, desde que descobriu a doença, com cerca de dois meses de gestação, passa de posto em posto para encontrar o medicamento Espiramicina, mas que nunca tem o suficiente nos postos. Ela precisa tomar seis comprimidos por dia e, com o pouco que consegue nas unidades de saúde não pode seguir o tratamento regularmente.
Moradora de São Sebastião, Maria diz que já passou nos postos do Paranoá e de Sobradinho 2, sem sucesso. “Eu gasto muito dinheiro de passagem para ver se encontro, chego lá, e não tem. Vou para outro e também não tem. É bem difícil”, conta. A Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES/DF) confirmou a falta do medicamento e alega que está em fase final do processo de compra.
Obstáculos da doença para o bebê
A toxoplasmose não é contagiosa entre humanos e não é perigosa para o adulto ou a criança depois de nascida, mas pode ser transmitida da mãe para filho por meio da placenta e, nesse caso, pode causar sequelas ao bebê. Segundo a ginecologista e obstetra Juliana Dytz, os riscos para o bebê dependem do período em que a mãe foi infectada: até os três meses de gestação, as chances de transmissão são menores, mas os riscos para o bebê são, consequentemente, maiores. Os médicos de Maria, porém, não souberam informar a ela se tinha contraído antes ou depois da gravidez, pois o Sistema Único de Saúde (SUS) não oferece o exame específico que revela esse resultado. “Se passar para o bebê, a toxoplasmose pode causar cegueira, encefalite, retardo mental, paralisia dos membros, dentre outras sequelas”, elenca a médica.
“Eu fico preocupada, porque me explicaram que a criança pode nascer cega, surda ou com problemas mentais por conta da doença. Já tenho ciência do que pode acontecer, mas, infelizmente, não posso fazer nada, só correr atrás de remédio”, conta a mãe. Por isso, Maria precisa realizar um exame que recolhe o líquido amniótico para ser avaliado em laboratório e confirmar a doença no bebê. Juliana explica que o procedimento é essencial para saber se o parasita causador da doença ultrapassou a placenta ou não.
Como o procedimento não é feito na rede pública, Maria procurou atendimento na rede privada, que oferece o exame a R$ 1.200. “Meu marido ganha quase isso. Se a gente for pagar por esse exame, o que vamos comer? A médica até me deu bronca, porque preciso fazer o exame com urgência. O problema é muito grave, mas não tenho o que fazer”, lamenta. A Secretaria de Saúde justifica que o procedimento não é ofertado por falta de demanda contínua.
Fonte: Correio Braziliense